MATA-MATA OU PONTOS CORRIDOS?
Um final de semana de mata-mata nos campeonatos estaduais com grandes públicos e jogos emocionantes traz à tona nas rodas de resenha futebolística a discussão sobre o melhor formato de disputa do campeonato brasileiro.
Com uma análise econômica sobre o fenômeno do futebol e as variáveis que atuam na escolha de cada modelo (mata-mata ou pontos corridos) o texto abaixo traz racionalidade a opiniões predominantemente passionais.
Apesar da decepção do 7×1 e das notícias cada vez menos animadoras provenientes da FIFA e da CBF, o futebol continua sendo um dos assuntos preferidos dos brasileiros. Nessa seara, a fórmula de disputa do campeonato brasileiro de futebol é tema recorrente nas rodas de cafezinho, nos bares, nos isopores, nos churrasquinhos da esquina e – por que não? – nos corredores das universidades.
Defensores da fórmula de pontos corridos argumentam que tal modalidade premia a regularidade, o planejamento e a justiça, na medida em que o melhor elenco normalmente vence a competição. Por outro lado, adeptos dos torneios eliminatórios (popularmente conhecidos como mata-mata) sustentam que um torneio nessas condições é mais emocionante, permite que equipes de menor expressão logrem êxito e, sobretudo, atrai mais público aos estádios.
No intuito de qualificar o debate e de dirimir as dúvidas relacionadas à influência da fórmula de disputa sobre o público presente nas canchas futebolísticas brasileiras, realizamos uma investigação profunda sobre os determinantes da demanda em estádios de futebol. Para tanto, analisamos os dados referentes a 9647 partidas do Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão entre 1990 e 2009, ou seja, antes e depois da introdução da fórmula de pontos corridos em 2003.
Também observamos para cada partida a influência de outros fatores sobre o público, tais como: preço normalizado dos ingressos, desempenho esportivo passado, nível de atratividade da peleja, características dos clubes mandantes e visitantes, dia da semana em que a partida foi realizada, além de características demográficas da cidade em que o jogo ocorreu.
Para surpresa de muitos, os resultados de nossas análises econométricas sugerem, com altíssimo grau de confiabilidade, que as partidas disputadas sobre o regime de pontos corridos atraem maior público aos estádios em relação à fórmula de mata-mata. Nossos dados revelam que outros aspectos também influenciam a demanda por jogos de futebol. Como era de se esperar, partidas com ingressos mais baratos atraem um público maior, assim como prélios realizados aos finais de semana, partidas envolvendo alguma equipe do eixo Rio-São Paulo e clássicos regionais de alta rivalidade.
Observamos também que o desempenho esportivo recente dos envolvidos, medido pelos resultados obtidos pelos clubes nas três últimas partidas, apresenta um efeito significativo sobre a demanda, maior até do que o fato do clube mandante ter conquistado título nacional ou continental na temporada passada. Ou seja, o torcedor brasileiro tende a valorizar aspectos de curtíssimo prazo em sua decisão de ir ao estádio.
Analisando os resultados com maior parcimônia, podemos inferir que as médias mais elevadas observadas na era dos pontos corridos decorrem do fato dessa modalidade de disputa estar associada a um maior número de partidas envolvendo uma ou duas equipes de maior expressão, como, por exemplo, equipes associadas ao finado Clube dos 13. O aumento no número de vagas para competições como a Copa Libertadores e a ameaça crível de rebaixamento para a segunda divisão, fatores que coincidiram com a nova fórmula de disputa, também contribuem para aumentar a atratividade das partidas e, com isso, o público presente nos estádios.A tendência crescente de público observada em nossa investigação quantitativa reforça esses pontos.
Independente das escolhas a serem realizadas (pontos corridos, mata-mata ou um formato híbrido) entendemos que é essencial tratar as decisões relacionadas ao futebol em suas diversas esferas com base em fatos e dados. É urgente e preciso que os gestores estejam conscientes de que a importância cultural, econômica e social do futebol não permite que achismos sejam tolerados. Caso contrário, em breve estaremos lamentando outro 7 x 1…
* Sandro Cabral é doutor em Administração e Professor da Escola de Administração da UFBA
Pedro Forbrig é bacharel em Direito e em Administração (UFBA), Especialista em Administração
FONTE: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/sandro-cabral-e-pedro-forbrig-mata-mata-ou-pontos-corridos-o-que-atrai-mais-publico/?cHash=2aceb98d6f150057e56c26f5cded204c
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